segunda-feira, novembro 27, 2006

Mobiliário de Museu – MASC, Florianópolis

Na mesma semana que fui para o Rio conhecer o Paço Imperial, fui para Florianópolis conhecer o MASC, lugar onde sediaria a mostra Ausências, itinerância de parte das obras da mostra Paradoxos Brasil, com curadoria de Marisa Mokarzel.

Lá cheguei, numa cidade onde tudo é praia, só se pensa em praia. E arte? Fica no CIC (Centro Integrado de Cultura de Florianópolis), espaço onde está o MASC (Museu de Arte de Santa Catarina), as salas do Cineclube Nossa Senhora do Desterro (cinema cult), o Teatro Ademir Rosa e muitas oficinas de criação.

O espaço do MASC é imenso e muito bom, mas levaram muito a sério as características de uma galeria modernista, ou seja, o "cubo branco" definido por Brian O'Doherty (no seu livro “No Interior do Cubo Branco: a ideologia do espaço da arte”). Não há nada mais além das paredes brancas. Não há sequer um extintor de incêndio a vista. E o que reproduzir, então? Conversei com toda a equipe do museu, os enchi de perguntas, até que uma senhora me contou: “Pois é, nós queremos muito que comprem uns bancos para as pessoas sentarem. Muitas senhoras de idade não agüentam visitar toda a mostra, porque não tem onde descansar. Mas o diretor não quer ‘poluir’ o espaço, então fica esse vazio que você vê.”

Depois de ouvir as lamúrias, não restaram mais dúvidas com relação a o que apresentar na mostra “Ausências”. Produzi seis bancos de museu, utilizando a cor branca (claro, não quis me indispor com o diretor do museu poluindo ainda mais o espaço expositivo), e dei o título “Mobiliário de Museu – Para contemplar”.

"Mobiliário de Museu - Para contemplar", interagindo com as pinturas da artista carioca Lucia Laguna.

"Mobiliário de Museu - Para Contemplar", interagindo com as pinturas do artista paraense Gabriel.

"Mobiliário de Museu - Para Contemplar", interagindo com o vídeo do artista cearense Ticiano Monteiro.

Mobiliário de Museu - Paço Imperial, Rio de Janeiro

Em dezembro de 2005 fui para o Rio de Janeiro para conhecer o espaço do Paço Imperial, lugar onde sediaria a mostra itinerante Paradoxos Brasil em junho.

Entrei no Paço observando tudo por onde passava, a bancada de entrada, as obras no pátio externo, o café, a escada...me deparei com um vigilante. Parei para pedir informação, queria saber onde estava a coordenadora do espaço expositivo para quem eu deveria me apresentar. Ele me respondeu muito gentilmente, com um sorriso cativante.

Segui meu caminho, cadeiras, lixeiras, portas...entrei numa exposição. Outro vigilante estava na entrada, me orientou como eu deveria interagir com as obras da artista Márcia X. Visitei toda a mostra e entrei em outra. Uma sala cheia de fitas largas de plástico que cortavam em diagonais todo o espaço. Me perdi caminhando entre as fitas, até que outro vigilante me viu e me avisou que deveria sair pela porta da direita.

E foi assim que decidi homenagear os vigilantes do Paço Imperial, pessoas de extrema educação, muito bem orientadas e de fácil comunicação. Então, produzi nove cadeiras (número de vigilantes presentes no espaço expositivo) iguais as dos vigilantes, utilizando quatro cores vibrantes. E para diferenciá-las, para personalizá-las, intitulei cada uma com o nome de cada vigilante.

O triste foi não ter tido a oportunidade de conversar com eles depois de montada a mostra, pois o Paço estava fechado durante o fim-de-semana para terminarmos a montagem, e os vigilantes foram dispensados do seu serviço. Gostaria de ter explicado pessoalmente a homenagem a eles, mas fiquei sabendo por terceiros (Elvira Vigna e Thiago Torres) que eles se divertiram muito, principalmente o vigilante Paulo Lindo, quem ficou com uma cadeira cor de rosa choque!
"Mobiliário de Museu - Jorge", 2006, tule e arame, Paço Imperial, Rio de janeiro.

"Mobiliário de Museu - Paulo Lindo", 2006, tule e arame, Paço Imperial, Rio de Janeiro.

"Mobiliário de Museu - Sérgio", 2006, tule e arame, Paço Imperial, Rio de Janeiro.

"Mobiliário de Museu - Paulo Roberto", 2006, tule e arame, Paço Imperial, Rio de Janeiro.

Mobiliário de Museu

Todo mundo vai ao museu para olhar obras de arte. Óbvio. Enquanto o trabalho dos artistas tem toda a atenção das pessoas, outros objetos presentes nos museus parecem invisíveis para os visitantes.

Normalmente, o público que visita um museu não se detém a olhar outra coisa que não sejam as obras de arte. E por este motivo, propus para o programa Rumos Artes Visuais 2005/2006 a série “Mobiliário de Museu”, em que fui selecionada para participar de três mostras coletivas ao longo deste ano:

Paradoxos Brasil, curadoria geral de Aracy Amaral, no espaço Itaú Cultural, em março;

Itinerância da mostra Paradoxos Brasil para o Paço Imperial, Rio de Janeiro, em junho;

Ausências, curadoria de Marisa Mokarzel, no MASC, Florianópolis, em novembro.

“Mobiliário de Museu” é uma série de intervenções com reproduções de objetos encontrados em cada espaço expositivo. Por isso, para cada mostra foram produzidos trabalhos diferentes. Os objetos de tule foram colocados em lugares estratégicos, onde os objetos reais estariam normalmente no museu, dialogando com as obras dos outros artistas, provocando uma reflexão sobre a estética dos objetos do cotidiano.

"Mobiliário de Museu - Banco das Rosas", 2006, tule, Casa das Rosas, São Paulo.

"Mobiliário de Museu - Banco Maurício Azeredo", 2006, tule e arame, Itaú Cultural, São Paulo.

"Mobiliário de Museu - Lixeira", 2006, tule e arame, Itaú Cultural, São Paulo.

"Mobiliário de Museu - Pufe 1/3", 2006, tule e arame, Itaú Cultural, São Paulo.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Espectros – Reescrevendo o Passado

Em 2004 recebi o convite da Fundação Cultural de Criciúma para realizar uma exposição em 2005. Com tempo para pesquisar e estudar o espaço expositivo, desenvolvi o projeto “Espectros – Reescrevendo o Passado”, uma intervenção site specific em que utilizei como referência a história do prédio, onde atualmente se encontra a FCC.

Este prédio foi construído inicialmente para abrigar o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em 1945. No prédio do DNPM foi construído um laboratório para análise do carvão e galpões para o seu acondicionamento. Foi instalado também o primeiro aparelho de Raios-X de Santa Catarina, para tirar radiografias dos mineiros. Em 1962, o setor de Criciúma do DNPM foi desativado, assumindo a Comissão Executiva do Plano do Carvão Nacional – CEPCAN. Com a eclosão do golpe militar em 1964, o prédio funcionou, durante alguns meses, como cárcere a indivíduos acusados de comunismo na cidade. Em 1971, foi desativado o setor do CEPCAN em Criciúma, sendo transferido para a cidade o Conselho Nacional do Petróleo (CNP). Em 1993, a Fundação Cultural de Criciúma (FCC) se apropriou da ala direita do prédio, criando o Centro Cultural Jorge Zanatta. E em 1996, todo o prédio passou a ser administrado pela FCC.

Para realizar esta exposição reproduzi alguns dos principais acontecimentos deste prédio, utilizando o tule para a produção dos objetos, somente nas cores preta e branca para remeter ao passado.

Com os objetos de tule foram reproduzidas: uma sala de escritório, contendo arquivos, mesas e cadeiras; duas salas se transformaram em prisões, com barras e camas de tule preto; outra sala apresentou uma reprodução de um aparelho de Raios-x e uma maca; e na última - local original do laboratório de análise do carvão - três grandes manchas que existem no chão, onde se encontravam balcões, avançaram no espaço tridimensional, preservando suas formas.

Está sendo realizada uma pesquisa sobre o prédio e suas atividades realizadas desde sua construção, por estudantes universitários, com o interesse de tombá-lo. O prédio ainda não foi tombado por pertencer ao poder público federal, não encontrando um responsável para responder pelo patrimônio. E, infelizmente, no decorrer dos anos, a discussão sobre sua importância histórica e necessidade de tombamento foi perdendo força. Os pesquisadores perceberam isto nas entrevistas feitas com algumas pessoas no centro da cidade, concluindo que a maioria dos habitantes reconhece a importância do prédio, mas ignora sua história e ligação com as atividades carboníferas.

A proposta desta exposição foi reacender na comunidade o interesse pelo prédio como bem cultural.

Acredito que foi a partir desta experiência que surgiu o interesse em trabalhar com os vestígios de um espaço carregado de história, com as marcas nas paredes e chão, resultado visto na mostra "Marcas que cuentan".

quinta-feira, novembro 09, 2006

Fabiano Goldoni sobre Laura Cogo - Marcas que Cuentan