sexta-feira, novembro 30, 2007

Jorge Luis Borges no Céu, demais argentinos na Terra.

Não li nenhuma obra completa desse senhor até hoje, só algumas frases soltas, algumas linhas reproduzidas nas paredes da livraria Ateneo. Talvez por isso eu não entenda o tamanho orgulho que os argentinos têm por ele. Gente de qualquer área o cita como referência, e utiliza seus contos como exemplos a serem seguidos.

Mas é claro que reparei mais ainda a sua presença nos milhares de exposições de arte que vejo pela cidade. Os artistas argentinos não cansam de usar seus textos como inspiração e, muitas vezes, como ilustração de suas próprias obras.

Não lembro de nenhum escritor brasileiro que tenha tanta influência sobre seus cidadãos quanto o Seu Jorge.

Definitivamente preciso ler alguma de suas obras, pra depois poder afirmar que essa gente tende ao fanatismo (lê-se maradonismo, peronismo, etc) com muita facilidade. Mas antes disso eu tenho que ler a obra completa do Seu Nelson, Nelson Rodrigues.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Muito pano pra pouca manga

Há algumas semanas atrás me informaram – por meio do boca-a-boca – que um artista havia exposto um cachorro vivo atado com uma corda num canto de uma galeria e que no dia seguinte da inauguração tinha sido encontrado morto. Busquei pela Internet maiores informações e encontrei uma massa de blogs, revistas virtuais, etc, denunciando tal atrocidade. Li algumas declarações, mas também não cheguei a fazer uma pesquisa aprofundada, afinal, não pensava em escrever uma tese a respeito. E me solidarizei com outros artistas que tomaram a iniciativa de criar uma petição contra a participação do artista Guillermo Habacuc Vargas na Bienal Centro-americana de Honduras em 2008.

Eu não estava lá pra ver, mas o que li e vi pela Internet foi suficiente para querer informar o maior número de pessoas dos meus contatos pessoais sobre esta história e para que assinassem tal petição. Entre muitas respostas que recebi de amigos que se sensibilizaram verdadeiramente com tudo isto, recebo uma resposta absurda e mascarada (sem assinatura) de uma agência de design de Buenos Aires:

From: info@nutropicx.net
To: contato@lauracogo.com.br
Sent: Friday, October 26, 2007 2:25 PM
Subject: NO CENSORSHIPS IN ART

BRAVO Guillermo Habacuc Vargas!!!!

You people are so plenty of hipocresy, plenty of fear, plenty of intolerance. You play the game for conservatives minds and powers. What is important here is the ART question, the KUNST performance. Do you think people that art is for beautiful things? do you think that art is a place for SHOPPING CENTER AESThETHICS? do you think that a museum or art gallery should be like EPCOT CENTER, Universal Studios or something else_? You are really shocked in your love for animals (what is OK and its not the point) with this performance, but, how much time do you spend in thinking in human life and dead_? and the circumstances in wich many people in third world or first world even, die? do you think when you hugh your dog or favorite pet at the same moment one person or more (many many more) are dying for political reasons, for socials reasons, or whatever, do you really think about that? Cut the crap people, please…… is more important for you a dog dying that 9 million people killed in Africa in wars? is more important for you a dog dying that people who die every day in midwest conflict? is more important for you a dog dying that thousand of inmigrants dying or trying to survive for reach American Dream or European Dream?
And if after all still a dog dying is more important for you, what is the reason WHY_? is because the dog is in an art biennale, and art biennnale is not a place for DEATH?, Art through history and occidental world history is about only two things EROS and TANATOS, SEX and DEATH, so from thousands of years DEATH has been an important subjet in ART… But the reason people that you are so shocked is because you support this fucking world and its system, you support a world of social differences, you really support playing and smiling at your pet face a world plenty of injustice, you support ESAT againts WEST, you support THE POWER against people, if in your life you really care more about your PET over humanity suffering, it is not the dog who must die in an art gallery, all of you must die in a less artistic form!!!

ART IS A PLACE FOR QUESTIONS AND PROBLEMS, NOT A PLACE FOR ANSWERS AND EYECANDYS!!!

AND how the ARTIST SAID ABOUT HIS EXHIBITION
The importance to me is the hypocracy of the people where an animal is the focus of attention where people come to see art but not when it’s in the street starving to death.” CHANGE DOG FOR PEOPLE AND IS THE SAME

Yes, that is the same hipocracy of people who hugh his pet watching American Idol meanwhile injustice, murder, poor, dictatorships, wars, oppressing systems, WTO, and and BIG ETC are having an eternal PIC NIC over our lifes.

STOP CENSORSHIP IN ART STOP CENSORSHIP IN ART STOP CENSORSHIP IN ART STOP CENSORSHIP IN ART

Fiquei estupefata diante de tamanha ignorância! Pensei em responder com um extenso texto, mas, não querendo perder meu precioso tempo, respondi somente as seguintes palavras: “Nonsense arguments and a terrible english.”

Ontem, por um acaso, entrei no blog de um curador argentino que admiro muito: o Rafael Cippolini. E me deparei com um texto sobre essa mesma história. Ele e seu amigo Guillermo Piro (quem defendeu o artista Habacuc em uma nota do jornal portenho Perfil) pensam muito deferente da maioria, chegam a elogiar a estratégia do artista, como se isso fosse Arte. Questionam os meios pelos quais as pessoas se informaram e acreditaram na história como verídica. Contam que o cachorro não morreu, que não passou fome e que fugiu no dia seguinte a inauguração, palavras ditas pela dona da galeria.

E em quem acreditamos? Não importa. O que importa é que um artista tirou um vira-lata da rua para prendê-lo dentro de uma galeria e apresentá-lo como Arte. Sou contra usar qualquer ser vivo em obras de arte quando isso implica prejudicá-lo de alguma maneira. Se isso foi uma estratégia de marketing, o que tenho a dizer é que foi muito infeliz.

O que há de bom em ser lembrado como “o artista que expôs um cachorro preso numa galeria e que morreu no dia seguinte de fome”? E junto a essa lembrança ficam as imagens desse cachorro que já estava doente, muito magro e em péssimas condições de vida, que serviu de marketing para a ascensão de um artista plástico nada criativo.

Lamentável.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Ela me faz chorar

A primeira vez que chorei num filme foi assistindo Dançando no Escuro do Lars Von Trier. E não foi por sua história triste e violenta, mas sim pela atuação da inigualável artista islandesa Björk. Chorei copiosamente e me apaixonei por ela.

Como conseqüência disso, meu primeiro disco foi o Selma Songs, e logo vieram Homogenic, Vespertine, Post, Debut, Medúlla e por último Volta.

Björk encanta, emociona. Com seus ruídos estranhos, batidas sonoras diversas, colagens, sobreposições e composições desconstruídas, é considerada por mim como a artista mais autêntica da atualidade, no ramo da música.

Pois ontem ela me fez chorar de novo, e dessa vez ao vivo. Assisti o show da turnê Volta no Teatro Gran Rex, em Buenos Aires. Pequenina e grandiosa, levantou milhares de pessoas das suas confortáveis cadeiras e transformou o teatro em uma grande e forte festa eletrônica.
Cantei gritando, eu queria que ela me ouvisse, eu queria que ela soubesse o quanto eu a admiro, eu queria que ela soubesse o quanto ela mudou minha percepção musical, o quanto meu ouvido é exigente agora e, principalmente, o quanto suas criações influenciam e sonorizam as minhas criações.

Ela tomou conta do palco com seu carisma, com sua voz suave e poderosa, se transformou numa gigantesca e estonteante criatura, contaminando e contagiando todos.

Inesquecível.