quarta-feira, setembro 27, 2006

A Arte encontra seu lugar

Em 2004 fui convidada pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense) para realizar intervenções artísticas no espaço externo do campus universitário.

Uma experiência específica

As pessoas se contentam com a praticidade das coisas do dia-a-dia. O olhar crítico sobre a cidade desapareceu, principalmente, dentro da principal área responsável: a arquitetura.

Cheguei a esta conclusão após realizar uma palestra para o curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC, em Criciúma. Apresentei meu trabalho para alunos e professores, questionando profissionais e futuros profissionais da área sobre as questões trabalhadas por minha produção artística, pelos temas que ela aborda e propondo questões quanto a sua relevância para promover uma discussão neste momento. As respostas foram muito claras. Os arquitetos declararam que o que houve com a estética das cidades foi uma conseqüência da atitude acomodada dos governos, que passaram a aprovar somente projetos que não demandam muitos recursos e tempo de execução. O investimento está na praticidade das construções e em seu poder de permanência, durabilidade e estabilidade, e o cuidado com a estética, com a co-relação entre as construções arquitetônicas, foi totalmente esquecido e mesmo descartado.

Resultado disso são essas paisagens cinzentas, pesadas, maciças de blocos sufocantes.

E após o debate, provocado pela experiência visual de Espectros, constatou-se que o que poderia vir a ser feito seria trabalhar os projetos arquitetônicos como construções site specific, passando a adotar o conceito e tudo que ele exige, empregando todas as suas características nas construções.

Esperar pra ver? Não devemos esperar por ninguém.


“A Arte encontra seu lugar – Lixo seco / Lixo orgânico”, 2004, tule e arame, 0,54 x 1,50 x 0,54m. UNESC, Criciúma, Brasil.

“A Arte encontra seu lugar – Cascão”, 2004, tule e arame, 1,40 x 1,70 x 2,60m. UNESC, Criciúma, Brasil.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Espectros

“Trabalhar para a rua significa questionar mais de cem anos de produção artística dirigida ao museu. Para o artista, significa também descer de seu pedestal, ousar o risco e aceitar a humildade.” (Daniel BUREN, 2001)

Espectros são intervenções urbanas em espaços não autorizados – às vezes autorizados. Espaços públicos, vividos e conquistados. São ações de guerrilha cultural contra a apatia e passividade da cidade, das pessoas e de seu comportamento social nesses espaços. Tratam de ser o mais impactantes e intensas, ao mesmo tempo em que efêmeras. Trabalham com o espaço autônomo temporal. Mantêm sua presença por pouco tempo, para não provocar a cegueira e conseqüente desaparição.

Em busca do genius loci, o espírito do lugar. Trabalhando em um determinado espaço e com esse espaço é possível resgatar seu caráter, sentindo sua essência logo que observado. O que está presente no lugar é o que faz existir este lugar. Trato de reproduzir ressaltando o que parece estar ocluso, para lembrar o esquecido. E assim encontrar o equilíbrio existencial.

É competência do homem fazer o lugar situar-se na história, sua história. E sigo acreditando nisso para que o trabalho suceda. Espectros são propostas que prevêem a ação do observador, investindo em elementos e significados para o espectador casual, não predisposto a olhar, causando surpresa, um olhar sem ver, um confronto com o olhar comum. Sendo o espectro dos objetos uma ameaça à estabilidade do espaço em questão.

Espectros se inserta no contexto das práticas artísticas contemporâneas que trabalham com mudanças, alterações e substituições, instaurando um lugar limite entre o objeto real e o objeto imaginário, a arte e a não arte, a superfície e a profundidade.

A rua é de todos. A arte é feita para todos.

“Espectros – Por favor, não sente.”, 2003, tule, 0,91 x 1,80 x 0,60 m. UFRGS, Porto Alegre, Brasil.

“Espectros – Tonéis”, 2003, tule e arame, 0,58 x 0,85 x 0,58 m. UFRGS, Porto Alegre, Brasil.

“Espectros – Isto não é uma lixeira.”, 2003, tule e arame, 1,68 x 1,05 x 0,55 m. UFRGS, Porto Alegre, Brasil.

“Espectros – Luminária”, 2003, tule e arame, 0,40 x 2,73 x 0,40 m. UFRGS, Porto Alegre, Brasil.

“Espectros – Entulho”, 2003, tule e arame, 0,95 x 1,55 x 1,25 m. UFRGS, Porto Alegre, Brasil.